quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fé: Cegueira ou visão aguçada?


A fé é a firme convicção de que algo seja verdade, mesmo que não se obtenha provas sobre tal verdade, ou pode ser tida como um crédito que se dá a algo ou alguém, independente de se encontrar motivos lógicos para o mesmo. Em fim... Fé independe de tato, visão, independe de “sentido”.
A fé estaria sendo uma crença vaga e não muito compreendida? Nos dias de hoje teria a fé perdido um pouco sua essência? E qual seria essa essência?
Bom, há pessoas que: “... continuam a propagar este erro fundamental, ou seja, de que só a fé conta e que as obras são uma conseqüência natural da fé.” *
Seria isso realmente um erro? Ou seria possível?
Há quem veja a fé como um sentimento que é externado através da obra que é sua causa, na qual aquilo que se obtém com a junção de ambas é tido como conseqüência.
Pode-se ter fé num objetivo a alcançar, pode-se ter fé em si mesmo, pode-se ter fé em pessoas, pode-se ter fé no sobrenatural... A fé é muito abrangente, apesar de quando citada na maioria das vezes, ela acaba sendo referida automaticamente ao lado religioso, porém a mesma não se restringe apenas neste aspecto.
A fé no sentido de visão aguçada seria aquilo que se enxerga “além” do que a visão permite, é um sentimento de se ter algo mesmo sem o ter de fato, seguido de uma motivação que leva ao alcance daquilo que se almeja (em casos de objetivos, por exemplo)
Seria isso uma espécie de auto-estima? Ou algo meramente ilusório?
Pode-se encaixar também no que se diz respeito a fé como visão aguçada, o crédito que se dá a forças superiores ou seres imortais que se “manifestam” através da natureza, ou outros aspectos, influenciando de certo modo as ações de pessoas que depositam sua fé em determinadas forças ou seres, ou seja “enxergam além”da realidade natural da vida.
Bom, há controvérsias no que se diz respeito à obra da fé, há quem veja a obra como causa e há quem a veja como conseqüente, mas independente do que seja de fato a obra da fé, a mesma não pode ser vista como sendo bastante para realização de objetivos, nem a fé por si só, nem a junção: fé e obra, pois vivemos num mundo de surpresas onde mesmo agindo em prol de algo, não saberemos se adquiriremos este algo, estamos sujeitos a sermos surpreendidos a cada instante.
Então qual a necessidade da fé? Se mesmo adquirindo-a corremos “riscos” do não alcance daquilo que almejamos?
E se almejamos, mas não possuímos fé na realização de tal, agiremos em prol de determinado desejo?
Essa tal visão aguçada adquirida através da fé, é o enxergar aquilo que não vivemos no determinado instante, mas nem por isso se deixa de viver o presente, se tem fé naquilo que se quer alcançar, mas se vive o que já se alcançou, e se semeia no presente aquilo que se quer para o futuro através de ações, mas se vive o presente em prol do próprio presente e também do futuro, é uma visão do que se está diante e além.
Mas a mesma fé que dá essa visão aguçada, pode também causar cegueira? Ou uma espécie de embriaguez capaz de ausentar a “razão” de um indivíduo?
“A embriaguez parece-lhes ser a verdadeira vida, o eu autêntico: em todo o resto vêem adversários e inimigos da embriaguez... A humanidade deve boa parte de suas desgraças a esses embriagados entusiastas: pois são infatigáveis semeadores do joio do descontentamento de si e dos outros, do desprezo de seu tempo e do mundo e, sobretudo do cansaço” *
Seriam esses “embriagados” possuidores da fé cega, aqueles que depositam sua fé na vida perfeita e plena de felicidade (denominada por alguns, como vida eterna) almejam tanto essa vida vindoura que se esquecem da vida atual, seu presente, sua realidade... Talvez por acharem mais fácil, uma vez que tentam se ausentar do mundo acabam tendo “justificativa” para redenção da “culpa” de ações humanas.
Pobres cegos e tolos por não viverem sua realidade?
Sábios por sentirem-se felizes hoje com foco no futuro?
Enganadores de si mesmos?
Possuidores da verdadeira felicidade?
Não estamos a criticar a crença em determinada doutrina, ou a fé em qualquer que seja o aspecto, e sim as ações ou falta de ações causadas por suposta fé.
São apenas meros questionamentos sem a intenção de apontar o certo ou errado...
Fé! Palavra curta de simples grafia, mas teria um amplo e complexo significado? Fé! Palavra essa que nos fortalece ou nos enfraquece? Fé! Visão aguçada, cegueira; Palavras, palavras, palavras... Apenas Palavras? Talvez.




*trechos do livro “Aurora” de Friedrich Nietzsche




Will & Lane